sexta-feira, 27 de julho de 2007

Os dois lados

Era 4ª série e estudavam à tarde. Para amenizar as conversas que atrapalhavam as aulas, havia um mapa de turma feito pelos professores e que deveria ser seguido todos os dias pelos alunos. O menino sentava na carteira à frente da menina. Por estarem próximos, conversavam baixinho e se davam bem.

Ele, muitos amigos e muitos assuntos com todos. Ela, poucas amigas, muita vontade de ter alguém com quem conversar. O menino, maluquinho e sempre sorridente. A menina, culta e com notas regulares. Só mesmo o mapa de turma para aproximá-los.

Uma tarde, mexendo no estojo da colega por curiosidade, o menino encontrou algumas moedas e as pediu com a naturalidade que se tem na infância. Ele colecionava figurinhas de futebol e qualquer dinheiro que o ajudasse na compra de novas era bem aceito. A garota pensou rápido como gota d'água após tentar abraçar tampa de panela quente, e disse que daria a ele as pratinhas desde que ele não conversasse nada e com ninguém até o final da aula. Ele teria permissão para conversar somente com ela. Como o recreio já tinha até passado, o menino topou.

Em um instante quase tudo foi por água abaixo quando a professora de matemática fez uma pergunta. O menino, com toda sua astúcia e por ter em mente apenas as figurinhas, fingiu ter uma crise de tosse. A professora nada pôde fazer. Naquele restante de aula o garoto cumpriu sua parte e conversou apenas com a menina. E ao final da aula, ele ganhou então as moedas e foi direto comprar o que tanto desejava.

No outro dia, após o recreio, a menina fez novamente a proposta do dia anterior e o moleque topou antes mesmo que ela terminasse de propor. E como a menina sempre tinha moedas que sobravam da compra do lanche no recreio, aquilo acabou virando costume para os dois e, do recreio em diante, o garoto só tinha uma pessoa com quem conversar. Às vezes, a menina propunha o trato desde o início da aula e deixava de merendar para dar ao menino o seu dinheiro.

Faltando 3 minutos para o fim daquela 4ª série, a menina declarou o amor que sentia ao menino através de um bilhetinho. Ele era só mais um garoto, nada fez, nada soube fazer. A menina se mudou para outro estado. Nunca mais se viram, nunca mais se falaram. Ao menino, restou as lembranças da primeira garota que por ele se apaixonou. Hoje, adulto, sabe que ela o completava e guarda seu álbum completo.

No gramofone
Artista: Rilo Kiley
Canção: Teenage Love Song
Álbum: Rilo Kiley (First Pressing)

3 comentários:

Anônimo disse...

Hey Lucas! voltei rapidinho para ler seu blog! Eu adorei essa historinha, muito, muito, mesmo, mesmo, mesmo! hahahahaha!
você escreve muiiiiiito bem!
a figura ficou perfeita!


Beijão.

Anônimo disse...
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Anônimo disse...
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