quinta-feira, 26 de junho de 2008

Os dez amigos


Os dez amigos
Upload feito originalmente por Lucas Ussi
Eles são legais.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Aperto


Aperto
Upload feito originalmente por Lucas Boot
Por um momento rápido do dia, sentiu saudade. No ônibus, andando na calçada, na volta pra casa, depois de um cumprimento ao mendigo sentado na esquina. Lembranças do sorriso, do primeiro olhar, da primeira conversa, das luzes que faziam sombras no rosto dela. O coração apertou e um suspiro triste se dispersou quando os pulmões se esvaziaram. Sua mente tentava imaginá-la como se ela estivesse naquele ambiente, naquele momento.

Os poucos segundos que juntos estiveram já se eternizaram. Mesmo distantes, momentos assim teimam em fazer parte do dia-a-dia deles. Pior que um amor não correspondido, só mesmo um grande amor que não floriu por causa de detalhes simples e fúteis.

No gramofone
Artista: Blues Traveler
Canção: Hook
Álbum: Four

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Os dois lados

Era 4ª série e estudavam à tarde. Para amenizar as conversas que atrapalhavam as aulas, havia um mapa de turma feito pelos professores e que deveria ser seguido todos os dias pelos alunos. O menino sentava na carteira à frente da menina. Por estarem próximos, conversavam baixinho e se davam bem.

Ele, muitos amigos e muitos assuntos com todos. Ela, poucas amigas, muita vontade de ter alguém com quem conversar. O menino, maluquinho e sempre sorridente. A menina, culta e com notas regulares. Só mesmo o mapa de turma para aproximá-los.

Uma tarde, mexendo no estojo da colega por curiosidade, o menino encontrou algumas moedas e as pediu com a naturalidade que se tem na infância. Ele colecionava figurinhas de futebol e qualquer dinheiro que o ajudasse na compra de novas era bem aceito. A garota pensou rápido como gota d'água após tentar abraçar tampa de panela quente, e disse que daria a ele as pratinhas desde que ele não conversasse nada e com ninguém até o final da aula. Ele teria permissão para conversar somente com ela. Como o recreio já tinha até passado, o menino topou.

Em um instante quase tudo foi por água abaixo quando a professora de matemática fez uma pergunta. O menino, com toda sua astúcia e por ter em mente apenas as figurinhas, fingiu ter uma crise de tosse. A professora nada pôde fazer. Naquele restante de aula o garoto cumpriu sua parte e conversou apenas com a menina. E ao final da aula, ele ganhou então as moedas e foi direto comprar o que tanto desejava.

No outro dia, após o recreio, a menina fez novamente a proposta do dia anterior e o moleque topou antes mesmo que ela terminasse de propor. E como a menina sempre tinha moedas que sobravam da compra do lanche no recreio, aquilo acabou virando costume para os dois e, do recreio em diante, o garoto só tinha uma pessoa com quem conversar. Às vezes, a menina propunha o trato desde o início da aula e deixava de merendar para dar ao menino o seu dinheiro.

Faltando 3 minutos para o fim daquela 4ª série, a menina declarou o amor que sentia ao menino através de um bilhetinho. Ele era só mais um garoto, nada fez, nada soube fazer. A menina se mudou para outro estado. Nunca mais se viram, nunca mais se falaram. Ao menino, restou as lembranças da primeira garota que por ele se apaixonou. Hoje, adulto, sabe que ela o completava e guarda seu álbum completo.

No gramofone
Artista: Rilo Kiley
Canção: Teenage Love Song
Álbum: Rilo Kiley (First Pressing)

sexta-feira, 15 de junho de 2007

O ócio de quem vive no ermo

Era noite e a porta da sala estava fechada. Luz apagada, pretidão proposital. O breu só não era total porque o aparelho de som emitia uma baixa luz azul, havia ainda um poste não muito distante e os faróis dos carros que passavam faziam desenhos que se movimentavam no teto.

A janela deixava entrar um vento frio. Ele, deitado no sofá, olhava para o céu muito limpo e estrelado. A gaita de Dylan o fazia esquecer o frio e relembrar velhos momentos. Se tivesse um automóvel, viajaria para qualquer lugar; sozinho, ouvindo aquela doce canção.

Quem o visse poderia pensar que fosse um drogado. Se na geladeira tivesse uma bebida, beberia. Aqueles solos de gaita faziam ele achar que as estrelas estavam se mexendo. O velho sofá mole de couro o abraçava.

No gramofone
Artista: Bob Dylan
Canção: Just Like A Woman
Álbum: Greatest Hits

sábado, 2 de junho de 2007

Todo mundo tem seu mundo

Faltava-me idéias. Decidi anotar o que vinha-me à cabeça. Pensei, pensei. Veio um rabisco assim:

Todo mundo tem seu mundo

Será que sou só eu que ainda não sei o que fazer na vida?
As pessoas parecem estar tão seguras e firmes nas suas escolhas.
Será que sou só eu que penso que dinheiro não é tudo na vida?
As pessoas perdem sua essência para o mundo das aparências.
Será que sou só eu que me preocupo com o planeta?
As pessoas acham que o planeta é um vaso sanitário natural.
Será que sou só eu que escolho um sábado qualquer para ficar em casa com minha família?
As pessoas acham que tudo é melhor fora das casas delas.
Será que sou só eu que fico lembrando do primeiro amor?
As pessoas desvalorizam o amor.
Será que sou só eu que sonho em ter uma família?
As pessoas criam relacionamentos alienados.
Será que sou só eu que guardo coisas da infância?
As pessoas se tornam adultos chatos e de mal com elas mesmas.

Todo mundo acha que seu mundo é correto, porém tem dúvida quanto à suas atitudes.


No gramofone
Artista: Nando Reis & Os Infernais
Canção: Não Vou Me Adaptar
Álbum: MTV Ao Vivo Nando Reis & Os Infernais

quarta-feira, 30 de maio de 2007

A solidão e a bondade

Levantou às 6:00. Calçou os chinelos e foi lavar o rosto amarrotado. Fez café, pegou uma xícara branca faltando uma lasquinha de esmalte e encheu três quartos dela. Pegou dois pães-de-queijo e foi para a janela da sala do pequeno apartamento. Cruzou os braços, apoiou os ombros na janela e tomou o café vendo a cidade começar a se formigar ao levantar do sol. Céu nublado, tempo bom para usar velhos agasalhos.

Se lembrava das boas pessoas que marcaram sua vida. Lembrava principalmente daquelas alegres e que conseguiam sempre arrancar dela nem que fosse um sorriso tímido e quieto. Lembrar disso a fez bem naquela manhã.

Desceu as escadas. Teria de andar seis quarteirões para ir a um psicólogo.

No segundo quarteirão caminhado, viu um rapaz novo, aleijado, sentado aos pés de uma árvore na calçada. O rapaz olhava para uma fotografia no chão, sorria timidamente e estava com uma das mãos apoiando o queixo - como se lembrasse de alguém que marcou sua vida.

Em um próximo quarteirão, se deparou com uma criança engraxando os sapatos de um velho senhor. A criança estava suja e provavelmente tinha passado frio na noite. Porém ela sorria enquanto polia os sapatos e tinha uma fotografia na sua caixa de ferramentas de trabalho.

Resolveu voltar em casa. Tirou da gaveta um cobertor e três blusas. Enrolou os pães-de-queijo que ainda tinha com alguns guardanapos. Desceu as escadas e foi distribuir sua ajuda aos dois meninos que havia visto.

Depois voltou para casa e ficou relembrando o passado até o céu ficar estrelado.

Aquele dia fez bem àquela solitária e simples mulher.


No gramofone
Artista: Stereophonics
Canção: Have A Nice Day
Álbum: Just Enough Education to Perform

segunda-feira, 28 de maio de 2007

O dinheiro e as letras da vida

A menina enfim havia terminado os estudos no colégio. Agora podia fazer uma faculdade e se especializar naquilo que ela quisesse.

Decidiu fazer Letras porque queria ser professora de idiomas. Com o sorriso largo e mais brilhante que aquelas janelinhas metálicas dos prédios na hora do pôr-do-sol, foi cantarolar a notícia a seus pais. O pai era médico e a mãe era dona de uma grande empresa de cosméticos. Ambos disseram à menina que Letras não era um curso que daria à ela um bom futuro e não haveria tanta possibilidade dela conseguir muito dinheiro.

E de repente a luz brilhante das janelinhas se apagou e o sorriso da menina escureceu como o breu da noite.
Ela passou a se perguntar se dinheiro realmente era uma coisa tão boa a ponto de poder influenciar e formar uma decisão tão importante para a vida dela. Perguntou aos amigos e todos responderam não.

O homem tem muita disposição para ganhar dinheiro. Ele rouba e vive por dinheiro. Porém na hora que a velhice bate com a bengala na cabeça dele, o ser humano se torna mais sensível, pensa muito no passado e até se arrepende. Mesmo com o nariz e as orelhas servindo de apoio para um objeto, ele passa a assistir que deveria ter roubado e vivido um grande amor. Nenhum dinheiro.

Quando os bípedes pensantes envelhecem, todos se tornam frágeis e com um mesmo destino que nenhum dinheiro pode comprar.

A menina teve personalidade, fez o que queria e foi alguém feliz.

No gramofone:
Artista: Maritime
Canção: German Engineering
Álbum: We, The Vehicles

sábado, 26 de maio de 2007

O desacreditado

Durante parte de sua vida, Samuel foi visto pelos outros como alguém devagar na busca pelos seus objetivos. Não alguém aventureiro, simplesmente devagar. Mas as pessoas que estavam à volta dele, contrastavam com o menino e pareciam ter os sonhos bem escolhidos e estavam tranqüilas com o caminho dos objetivos individuais.

E com o girar dos ponteiros, Samuel foi se distanciando destas pessoas, não de forma intencional, mas sim por que o destino é como um coador de café.

O garoto simples foi ficando cada vez mais sozinho. Enquanto aquelas outras pessoas se sacrificavam muito pelo excesso de confiança e solidez, Samuel brincava e estudava o mundo e a vida, passando a ver e conhecer o que realmente queria.

E acabou que aquele que era visto como devagar se tornou alguém muito bem consigo mesmo. Alguém que se conheceu melhor. Uma pessoa que viu muitos pores-de-sol e várias noites estreladas. Enquanto elas se engravatavam, buscando a "felicidade sólida" e irascível, Samuel descobria a felicidade pela essência.

No gramofone
Artista: Nando Reis
Canção: Dentro do mesmo time
Álbum: A Letra A

sexta-feira, 25 de maio de 2007

O primeiro dia

O primeiro dia

O primeiro dia de aula do menino na faculdade poderia ter sido melhor. Ele queria, logo no primeiro dia, se tornar amigo de todo mundo. Ficou calado como alguém que não fazia parte daquela comunidade. Só disse seu nome quando o foi perguntado pelo professor que havia apontando um dos dedos para cada um dos alunos e perguntando o nome de cada. Era este cada que o fazia ainda mais no seu canto.

Durante o recreio, ficou quieto em um canto do corredor apenas olhando para as nuvens. A única coisa que tirava sua atenção eram algumas lindas meninas mulheres.

O menino pegou o ônibus já com vontade de voltar para a faculdade e também com vontade de fazer novas amizades no dia seguinte.

No gramofone
Artista: Ben Lee
Canção: Running With Scissors
Álbum: Hey You. Yes You.